O passarinho
Ou o microondas.
Esta não é opinião, é uma pequena crônica da vida real.
Uma antiga e boa vizinha de Copacabana era funcionária da prefeitura do Rio e tinha três colegas muito amigas, que se valiam, porque nenhuma tinha familiares com quem se relacionassem. Eram solteiras ou separadas e uma tinha um filho, que todas pajeavam. A minha amiga tinha um irmão mau caráter, com quem tinha cortado relações há muito tempo mantendo, porém, com a ex- cunhada; o casamento do mau caráter não durou .
As quatro funcionárias tinham um plano para quando se aposentassem, em épocas próximas: Fazer a viagem Europa Maravilhosa, da companhia de turismo Abreu. Onze países, incluindo Mônaco, quase 40 dias. Fizeram poupança por anos, com esse objetivo.
Uma delas se desligou do propósito, o filho casou cedo e ela o ajudou com a entrada de um apartamento, no Méier, pelo BNH. Ela própria se mudou para o Méier, para ficar perto do filho.
Essa, do Meier, teve que fazer uma cirurgia de coluna e a minha amiga organizou, entre as três, para prestarem os cuidados necessários.
Chegou a tão esperada viagem. Minha amiga tinha um passarinho, que era o seu xodó. Paixão mesmo, companheiro. Ia ver se o porteiro tratava do bichinho, mas não estava satisfeita. A que tinha mudado para o Méier, agradecida pela dedicação, quando da cirurgia, disse: Ele vai ficar comigo, pode trazer para cá, traz as comidinhas dele, diz como tem que ser cuidado e vou fazer isso. Pode viajar tranqüila, que eu tomo conta.
Nos dias da viagem, aquele alvoroço, ministro lançando pacote econômico de ultima hora, tumultuou tudo, mas viajaram.
No vôo da Varig, aqueles vôos chics de antigamente, depois do jantar magnífico, ajeitou para tentar dormir na poltrona, vendo o filme, quando lembrou horrorizada: Tinha esquecido o passarinho.
Não sabia o que fazer. As amigas deram sugestões, todas impossíveis. Mesmo sendo síndica, ela não teria como avisar o porteiro, não havia celulares. Poucos moradores do prédio tinham telefone e ela não tinha os números na agenda, tocava campainha mesmo. A amiga do Méier também não tinha, estava em fila de espera, por uma linha, na telefônica.
Foi um desespero até chegar em Lisboa, num domingo de manhã. Como fazer a viagem dos sonhos e ao chegar, ver o passarinho querido e companheiro, morto na gaiola. A viagem tinha perdido totalmente a graça. Decidiu até largar as amigas e voltar.
No hotel, conseguiu um catálogo do Rio, com as cidades do interior e tinha o telefone da ex-cunhada de Cabo Frio. Ligou e a cunhada, que acordava cedo, atendeu na hora, dizendo: Fique tranqüila, terça eu tenho consulta no Rio e trago ele para cá. Ela tinha cópia da chave, eram amigas e quando ia ao Rio, para pernoitar, ficava em seu apartamento. Ela só aliviou, de todo, quando ligou terça à noite e a cunhada disse: Pode aproveitar sua viagem, ele está aqui comigo.
Aproveitaram bastante, viram tudo o que queriam ver, foram a shows e fizeram compras. Pena que não conseguiu um presente, à altura, para a cunhada. Pensou em seda, bolsa, coisa chic, mas a cunhada era tipo hippie, só usava bata, chinelo e sacolas. Acabou comprando alguma coisa, mas não estava satisfeita.
As três tinham levado, também, dólares para comprar um microondas, no Free Shop do aeroporto. Era um sonho de consumo do momento, anos oitenta.
De volta, foi a Cabo Frio pegar o filhote, quer dizer, o passarinho. Aí teve a idéia: Levou o microondas, que comprou, de presente para a cunhada, que tinha salvo a grande viagem da sua vida.
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Uma antiga e boa vizinha de Copacabana era funcionária da prefeitura do Rio e tinha três colegas muito amigas, que se valiam, porque nenhuma tinha familiares com quem se relacionassem. Eram solteiras ou separadas e uma tinha um filho, que todas pajeavam. A minha amiga tinha um irmão mau caráter, com quem tinha cortado relações há muito tempo mantendo, porém, com a ex- cunhada; o casamento do mau caráter não durou .
As quatro funcionárias tinham um plano para quando se aposentassem, em épocas próximas: Fazer a viagem Europa Maravilhosa, da companhia de turismo Abreu. Onze países, incluindo Mônaco, quase 40 dias. Fizeram poupança por anos, com esse objetivo.
Uma delas se desligou do propósito, o filho casou cedo e ela o ajudou com a entrada de um apartamento, no Méier, pelo BNH. Ela própria se mudou para o Méier, para ficar perto do filho.
Essa, do Meier, teve que fazer uma cirurgia de coluna e a minha amiga organizou, entre as três, para prestarem os cuidados necessários.
Chegou a tão esperada viagem. Minha amiga tinha um passarinho, que era o seu xodó. Paixão mesmo, companheiro. Ia ver se o porteiro tratava do bichinho, mas não estava satisfeita. A que tinha mudado para o Méier, agradecida pela dedicação, quando da cirurgia, disse: Ele vai ficar comigo, pode trazer para cá, traz as comidinhas dele, diz como tem que ser cuidado e vou fazer isso. Pode viajar tranqüila, que eu tomo conta.
Nos dias da viagem, aquele alvoroço, ministro lançando pacote econômico de ultima hora, tumultuou tudo, mas viajaram.
No vôo da Varig, aqueles vôos chics de antigamente, depois do jantar magnífico, ajeitou para tentar dormir na poltrona, vendo o filme, quando lembrou horrorizada: Tinha esquecido o passarinho.
Não sabia o que fazer. As amigas deram sugestões, todas impossíveis. Mesmo sendo síndica, ela não teria como avisar o porteiro, não havia celulares. Poucos moradores do prédio tinham telefone e ela não tinha os números na agenda, tocava campainha mesmo. A amiga do Méier também não tinha, estava em fila de espera, por uma linha, na telefônica.
Foi um desespero até chegar em Lisboa, num domingo de manhã. Como fazer a viagem dos sonhos e ao chegar, ver o passarinho querido e companheiro, morto na gaiola. A viagem tinha perdido totalmente a graça. Decidiu até largar as amigas e voltar.
No hotel, conseguiu um catálogo do Rio, com as cidades do interior e tinha o telefone da ex-cunhada de Cabo Frio. Ligou e a cunhada, que acordava cedo, atendeu na hora, dizendo: Fique tranqüila, terça eu tenho consulta no Rio e trago ele para cá. Ela tinha cópia da chave, eram amigas e quando ia ao Rio, para pernoitar, ficava em seu apartamento. Ela só aliviou, de todo, quando ligou terça à noite e a cunhada disse: Pode aproveitar sua viagem, ele está aqui comigo.
Aproveitaram bastante, viram tudo o que queriam ver, foram a shows e fizeram compras. Pena que não conseguiu um presente, à altura, para a cunhada. Pensou em seda, bolsa, coisa chic, mas a cunhada era tipo hippie, só usava bata, chinelo e sacolas. Acabou comprando alguma coisa, mas não estava satisfeita.
As três tinham levado, também, dólares para comprar um microondas, no Free Shop do aeroporto. Era um sonho de consumo do momento, anos oitenta.
De volta, foi a Cabo Frio pegar o filhote, quer dizer, o passarinho. Aí teve a idéia: Levou o microondas, que comprou, de presente para a cunhada, que tinha salvo a grande viagem da sua vida.
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