Disciplina

José do Patrocínio era filho de pai branco, padre e mãe negra, escrava. Como padre não podia assumir a prole, acabava sendo só o filho da escrava. André Rebouças era filho de escravos. Ambos estudaram junto com jovens da elite branca e cheia de empáfia, do final do século dezenove. A escravatura, para eles, não era uma longínqua referência histórica. Era a realidade em que se criaram. Certamente eram discriminados. Deviam perceber os olhares complacentes e piedosos de uns e maldosos e arrogantes de outros. Nessa época não havia a lei Afonso Arinos, aliás, não havia sequer a Lei Áurea. Negro era o último da fila e pronto. Faz-se ideia, quanto de mágoa se escondia em seus corações.
Assim como seus colegas brancos, tinham que estar com a decoreba na ponta da língua. Saber de cor a tabuada, a data do Tratado de Tordesilhas, as capitais das províncias e as declinações do latim. Olha a palmatória!
Na classe, o berro de SILÊNCIO do professor fazia todos ficarem quietos e atentos à aula. E aprendiam!
Curioso é que aprendiam, mesmo com todos os fatores negativos que os cercavam, com as técnicas educacionais hoje condenadas e com toda a discriminação. Não participavam da construção da própria educação, a escola era nada igualitária. Também não era inclusiva, nem havia trocas de experiências culturais.
José do Patrocínio formou-se em Farmácia, mas trabalhou principalmente como jornalista e foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. André Rebouças foi um grande engenheiro e inventor. Ambos atuantes abolicionistas.
Chega-se daí a uma conclusão. O fundamental, para que tenham se tornado cidadãos bem sucedidos, foi a disciplina nas salas de aula.

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