Facas
Esse post não é opinião, é fato. Bem, no finalzinho dei uma opinião.
Há uns anos, peguei um ônibus do trabalho para casa, horário do almoço. Pretendia descer ao lado de um pequeno Shopping, o Centro da Praia. O ônibus estava bem cheio e meu percurso seria curto, menos de dez minutos. Passei a roleta e todos os lugares estavam ocupados. De repente me ofereceram lugar. Alguém, como um mendigo sujo, negro, magérrimo, com um cinto apertando a calça e também uma garrafa de vidro, com bebida, enfiada na cintura, de forma perigosa, numa freada brusca ele poderia cortar a barriga e na outra mão outra garrafa, que ele ia bebendo.
Estava sentado naquela cadeirinha dobrável, ao lado do espaço para cadeirante. No colo uma pasta arquivo verde, com elástico, toda suja, cheia de papéis e um embrulho.
Pensei em recusar, ia descer logo, mas tive um arrepio, mendigo, negro, vai achar que estou de má vontade por esse motivo. E ele com com essas garrafas! Aceitei de mau jeito e mal me sentei, ele me passou os pertences, para eu segurar. A pasta ensebada e o pacote que se abriu, com umas cinco ou seis facas recém afiadas, daquelas de açougueiro mesmo. As maiores tinham quase dois palmos.
Todo mundo fingia que não olhava. Na falta do que fazer fiquei calma. Disse com muita calma: vou colocar aqui neste cantinho no chão, para não machucar ninguém, pegando com cuidado, para não me cortar. Havia um espaço sobre o pneu, em que o piso da carroceria ficava arqueado para cima, encostei o pacote de facas ali. Ele falando: quando você descer, vou descer também. Já tinha decidido não tocar o sinal, para ele não descer junto, iria descer no ponto em que outra pessoa tocasse. Continuei calma. Alguém deu sinal exatamente para o ponto que eu queria. Continuei parada, olhando para frente, o ônibus parou, desceram alguns e rapidinho levantei e entreguei a pasta de papéis na mão dele, falando: Agora o lugar é do senhor e me mandei. O ônibus seguiu. Nunca soube o final da historia.
Contando depois, disseram que ele devia trabalhar em açougue. Eu respondi: daquele jeito, de forma alguma. Pode ter sido, no passado, funcionário de açougue.
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Perigo você passou.
ResponderExcluirAceitei o lugar por racismo, mesmo. Receei que ele, sendo muito negro, se ofendesse por uma recusa. Achando que seria por que ele era preto. E eu não iria criar caso com um cara, com duas garrafas de vidro. Não tinha visto ainda as facas. Se fosse mais claro um pouquinho, teria agradecido simplesmente.
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