Jacaré

Hoje não é opinião. São reminiscências.

Quando criança, tínhamos muitos bichos em casa. Um viveiro enorme, de passarinhos, além de alguns em gaiola, cachorros, gatos, pombos, um papagaio, que não parava de falar, em bom português, galinhas, patos, um casal de pavões, ainda filhotes, mais algum bicho,  que não chamava muita atenção e um jacaré. Todos em seus espaços.
A casa, que pertencia ao Exército, meu pai era oficial médico, tinha um terreno compridão, dividido em pátios. As crianças só tinham autorização de usar o primeiro, que era onde estava o viveiro, varais de roupas, acho que alguma árvore, não lembro bem. No seguinte, com muitas arvores, mangueira, amoreira, cajá, acho que ingá, ficavam galinhas, pelo que lembro. No próximo, mais arvores, incluindo um jenipapeiro e em um grande poço, o jacaré. Não poderíamos sequer chegar perto para ver, a não ser no colo do pai. No último, horta e um alagado onde ficavam patos.
Durante muitos anos, esse jacaré esteve escondido em algum canto oculto do meu cérebro, mas, com a velhice, essas coisas antigas assomam à cabeça. Comecei a pensar em como esse jacaré foi parar lá. Certamente, presente de alguém. Meu pai, médico, ganhava muitos presentes e o jacaré poderia ser um. Mas, nunca soube, que fim ele levou. Comido, sei que não foi, o pai não iria fazer isso e eu teria tido algum conhecimento. Eu deveria ter menos de cinco anos, senão as lembranças seriam mais nítidas.
As pessoas, a quem poderia perguntar, não estão mais aqui. O pai, a mãe e minha irmã Irene, mais velha do que eu, já tomava conhecimento das coisas e era confidente da mãe. Outra pessoa seria o senhor que tratava dos bichos da casa, mas ele, também, está ao lado de Deus.
Dos pavões eu sei o triste fim, já era um pouco maior. Alguém deixou o portão mal fechado, provavelmente a empregada ao voltar da aula noturna, entrou um cachorro louco, escavou, com as patas, um buraco por baixo do viveiro, entrou e matou os dois. Os passarinhos escaparam, porque voaram, segundo o senhor que tratava deles . Foi ele quem falou do cachorro louco, que já tinha matado umas galinhas, em outra casa, em Vila Velha.
Comentei esses dias com meu irmão Jayme, mais novo do que eu e que não tinha lembrança pessoal. Muito conhecedor do pai, companheiro nas idas à roça e muitas cavalgadas juntos, disse que só poderia ter tido um destino, o pai o teria feito soltar, em algum lugar apropriado.

 

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